A obra de Cris Prado mostra o mar de Ubatuba em movimento constante — belo, vivo, mas também vulnerável. As ondas que chegam e recuam lembram a força e a fragilidade dos oceanos hoje. Por trás da paisagem tranquila, há um alerta silencioso: o mar sofre com a poluição, o aquecimento global, a pesca excessiva.

Essa obra convida à contemplação, mas também à consciência. Ao olhar para o mar, somos chamados a refletir sobre nossa responsabilidade com ele. A natureza segue seu ritmo, mas os sinais de desequilíbrio já estão ali, misturados à beleza das águas. 

Mar de Ubatuba

"Parte da poética da artista se fundamenta nos elos e tensões entre aquilo que é natural e o que fabricado pelo ser humano. No diálogo aqui proposto, a organicidade visual se mantém, embora os materiais sejam de proveniência diferentes. O modo como eles conversam instaura um pensar sobre os caminhos da arte no cenário contemporâneo, em que os chamados simulacros e as consideradas realidades convivem no cotidiano das mais diversas formas, gerando múltiplas percepções do mundo".

  
Oscar D'Ambrosio

  

Dual Zone

Da ancestralidade das águas e dos ventos do litoral norte do Brasil, emerge uma forma que carrega o tempo em sua pele. Um fragmento de madeira fossilizada — outrora tronco, agora memória mineral — atravessado por um vidro azul que irradia reflexos e refrações como se o mar ainda sussurrasse ali dentro.

Em _Tronco Azul do Mar_, Cris Prado funde matéria e luz em um gesto de escultura sensível. A madeira, marcada por séculos de sal e silêncio, encontra no vidro a transparência do presente: um corte que não fere, mas revela. Sob o jogo de iluminação, a obra se transforma em prisma vivo, entre a solidez da terra e a fluidez do oceano.

É um encontro entre o natural e o criado, entre o que o tempo enterrou e o que o olhar artístico faz ressurgir — translúcido, etéreo, vibrante.

Tronco Azul do Mar

Sob a lente do invisível, Cris Prado nos convida a mergulhar em três mundos suspensos, onde a ciência cede espaço ao lirismo e o olhar se dissolve em camadas de luz. Aquarelas líquidas, craqueladas e pixeladas transformam-se em paisagens íntimas — oceanos internos, florestas cristalinas e constelações codificadas. Cada cápsula é um relicário microscópico que amplia o sensível e revela o que os olhos não alcançam: a delicadeza do detalhe, o tempo contido na matéria, a poética das formas que flutuam entre arte e observação.

Essas pequenas janelas circulares não são apenas lentes, mas portais. Nelas, o espectador é convocado a ver o mundo como quem contempla um segredo: ampliado, ressignificado, redescoberto.

Microscópio

Na interseção entre o sólido e o efêmero, **Folha de Madeira** se desdobra como um corpo híbrido—madeira, aquarela e imagem em fluxo. Entre a rigidez da matéria e a fluidez da percepção, a obra se transforma conforme o olhar, a luz e o ângulo. A placa lenticular, como um véu mutável, desafia a estabilidade da forma, tornando a imagem uma experiência passageira, sempre em movimento.

A madeira, com sua presença firme, carrega a memória do tempo e das raízes, enquanto a aquarela, leve e maleável, dissolve-se em gestos líquidos. No embate entre tradição e inovação, entre o natural e o tecnológico, nasce a tensão essencial desta peça: o equilíbrio entre permanência e transformação, estrutura e fluidez.

Pendurada no espaço, a obra respira junto ao ambiente, adaptando-se, inclinando-se, desafiando a própria rigidez de sua origem. 

Folha de Madeira

Suspensa no ar, esta obra dança ao sabor do vento, movendo-se entre o visível e o intangível, entre a luz e a sombra. Inspirada na estética popular do Nordeste e na obra de Ariano Suassuna, ela resgata a força do cordel e o imaginário sertanejo em sua forma mais lírica e luminosa.

O acrílico transparente, moldado em curvas fluidas, ecoa as ondulações do tempo e da paisagem. Nele, um adesivo em estilo xilogravura revela o Mandacaru—símbolo de resistência e poesia, de raízes profundas e flores raras. A luz de LED projeta um sol amarelo, quente e implacável, cujos reflexos e sombras desenham o contorno da planta no espaço, evocando a aridez do sertão e a luta dos personagens de Suassuna.

Como o próprio Mandacaru, que floresce em meio à seca, a obra celebra a resiliência de um povo que transforma adversidade em arte, escassez em narrativa, sombra em espetáculo. Seu movimento delicado, suspenso por um fio de nylon, faz com que a luz e a sombra nunca sejam as mesmas, assim como as histórias populares, que se reinventam a cada nova contação.

Aqui, teatro, literatura e artes visuais se entrelaçam em um gesto simples, mas poderoso—um tributo à cultura que resiste, floresce e ilumina.

Mandacaru: Luz e Sombra no Sertão

No âmago do vidro, um fragmento da terra repousa—uma madeira esculpida pelo tempo, onde o orgânico se dobra à eternidade da matéria. Como um corte na fluidez do natural, o metal se impõe, uma interseção fria e precisa, um vestígio do humano que dialoga com o ancestral.

O espelho, cúmplice do efêmero, dobra realidades e multiplica existências. Ele desafia o olhar: onde termina a forma e onde começa o reflexo? A madeira, marcada pelo passado, encontra-se consigo mesma no brilho liso do vidro, dissolvendo fronteiras entre o que é e o que se imagina.

Nesta composição, a interrogação permanece. Somos o tempo que corrói ou a geometria que resiste? Talvez sejamos apenas o reflexo entre ambos.

Nature ?

Nesse eterno espetáculo da vida, as formas da natureza e a exatidão industrial tecem uma intricada dança que revela uma proximidade muitas vezes ignorada. O orgânico, esculpido com elegância pela mãe natureza, não é apenas o ponto de partida do nosso mundo, mas também o constante guia de sua evolução. A tecnologia, nascida da simples observação dessas maravilhas naturais, atesta nosso eterno anseio de compreender e replicar a complexidade da natureza.

Entretanto, o contraste entre a precisão industrial e a fluidez das formas orgânicas lança luz sobre um diálogo incessante, mas também sobre a aspiração humana de subjugar a natureza. Essa brutal busca pela exatidão, que ousa desafiar a graciosidade da Terra, levanta questões sobre o nosso futuro. À medida que buscamos a supremacia sobre o mundo natural, corremos o risco de aniquilar a mesma fonte de inspiração. Assim, envoltos nesse ciclo perpétuo de criação e recriação, continuamos nossa eterna jornada, almejando o equilíbrio que preserva a harmonia entre a precisão industrial e a riqueza da natureza.

Folhas

A obra apresenta uma folha de acrílico feita pelo homem ao lado de folhas

de palmeiras verdadeiras. Esta composição explora a relação entre o verdadeiro e o falso,

evocando as questões contemporâneas das imagens manipuladas e da desinformação na

internet. O acrílico, imitando a natureza, simboliza as falsificações digitais — atrativas, mas

vazias de autenticidade. Em contraste, a folha natural, com sua complexidade orgânica,

remete à autenticidade e à profundidade da realidade não mediada.

Folhas de Palmeira

Cris Prado, "Ecos de Luz", 2024.Três cubos de madeira branca, cerâmica cobogó, lentes, aquarelas, luz e som compõem esta instalação. Cada cubo, medindo 23,5cm x 23,5 cm x 34 cm, deve ser disposto lado a lado com um espaçamento de 23,5 cm entre eles, pendurados à altura de 1,50 metros piso. Uma simples tomada 110 V de energia é necessária. 

'Ecos de Luz' é a fusão entre arte, ciência e tecnologia, utilizando lentes que capturam e refratam luz e cor. Luz, aquarela, som e lentes estão integrados, criando uma completa experiência sensorial. Os cubos, apresentados em sequência, engajam o espectador tanto visual quanto sonoramente. A trilha sonora, criada exclusivamente para a obra, aprofunda a imersão.

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